Atores criados por IA como a “atriz” de IA Tilly Norwood gerou forte repercussão negativa em Hollywood, já comparada a uma nova Scarlett Johansson.

É óbvio que isso vai acontecer

É preciso enxergar o entretenimento filmado sob a ótica econômica, não artística. A IA não está aí para criar grandes obras, mas para cortar custos, eliminar talentos humanos e acelerar processos. A Netflix, por exemplo, caminha para os 300 milhões de assinantes, faturando cerca de US$ 40 bilhões contra US$ 17 bilhões em gastos com conteúdo. O caminho mais curto para aumentar o lucro é baratear ainda mais esse conteúdo por meio de processos automatizados.

A empresa já usa inteligência artificial para decidir o que produzir, oferecendo um cardápio que vai da arte mais sofisticada ao entretenimento mais descartável, sempre projetado para manter diferentes públicos engajados. O Poder do Cachorro não foi feito por devoção à arte, mas para reter os assinantes mais exigentes. Da mesma forma, O Amor às Cegas, disponível em dezenas de idiomas, existe para segurar o público de reality shows.

Se a IA permitir que esses gigantes — mais empresas de tecnologia do que estúdios — produzam mais conteúdo, mais rápido e a custos menores, não há dúvida de que seguirão esse caminho.

A IA não compreende humor

Comédia. Essa seria a verdadeira virada de chave — se algum dia ocorrer. Hoje, a IA não consegue nos fazer rir. Ela não compreende o humor, o timing, nem o que realmente torna algo engraçado. O diálogo e a apresentação mostrados acima podem até ser tecnicamente notáveis, mas carecem totalmente de alma. Assistimos esperando ficar impressionados, mas o resultado foi apenas entediante.

Não digo que seja impossível — apenas ainda não aconteceu.

Noventa e nove por cento do que temos visto em filmes de IA se resume a um plano médio de um único personagem, normalmente falando diretamente para a câmera, como um porta-voz.

O que ainda não vimos é uma cena de drama convincente envolvendo dois ou mais personagens gerados por IA. Os diálogos aparecem sempre de forma fragmentada. A IA ainda não consegue criar múltiplos personagens distintos que interajam entre si e causem impacto uns nos outros. Não estou dizendo que seja impossível — apenas ainda não chegamos lá.

O gênio não vai voltar para a garrafa

É impressionante perceber o quanto a tecnologia avançou em tão pouco tempo.

Não há dúvida de que, mesmo que a IA ainda não substitua protagonistas na tela, o conteúdo gerado por ela encontrará seu espaço no cinema. Trata-se de uma ferramenta como qualquer outra e pode se tornar um divisor de águas em diversos aspectos da mídia.

Quem tiver sua carreira impactada — e certamente haverá pessoas afetadas — precisa se acalmar e refletir sobre os próximos passos. O gênio não volta para a lâmpada. Provavelmente, os fabricantes de cavalos e de freios ficaram irritados com Gottlieb Daimler e Henry Ford, mas se o conteúdo de IA se mostrar útil e econômico, nada poderá detê-lo.

O fracasso da IA surge quando a ideia vai direto para a execução sem reflexão

o verdadeiro motor da criatividade — 9 em cada 10 vezes — está no atrito entre ideia e execução.

Uma boa pintura surge de estudos preparatórios; uma atuação memorável vem de ensaios. O tempo dedicado, a frustração sentida, os erros cometidos — tudo isso é parte essencial do processo de gerar boas ideias.

E isso vale não só para a arte, mas para qualquer iniciativa. Até mesmo ideias empresariais aparentemente simples precisam desse atrito para se tornarem sólidas.

O problema da IA é que ela pula essa etapa. A ideia vai direto para a execução, e embora superficialmente possa parecer interessante, falta profundidade. As ideias parecem boas, mas não foram realmente testadas ou refinadas — e, no fim, ainda são fracas.

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